O caso do envenenamento

Autora: Andrieli Leonhardt Muller
Turma: 9ª série B
Unidade: Lajeado
Professora: Letícia Gracioli

Eu nunca havia realmente pensado na profissão que queria seguir na minha vida adulta, porém, sempre tive uma inclinação para investigações. E, quando eu digo sempre, eu quero dizer desde que eu era uma criancinha.  
Meu hobby era ler. Eu lia qualquer gênero que estivesse em minhas mãos, mas os meus favoritos sempre foram os de mistério e investigação. Talvez isso também tenha me influenciado, tenho que admitir.  
Enfim, eu me lembro bem do dia em que decidi testar, pela primeira vez, as minhas habilidades como investigadora. Eu estava caminhando pela vizinhança com a minha cadelinha Kira. Nós estávamos a apenas duas ruas da minha casa, quando a minha vizinha me parou, segurando o meu braço.  
– Senhora Flores, está tudo bem? – Indaguei, assustando-me com a expressão tão triste no rosto de uma mulher sempre alegre.  
– Não. – Ela admitiu. – Hanna, eu só quero te avisar… Eu vejo que você é tão feliz com a sua cadelinha e… Não quero que ela tenha o mesmo fim que teve o meu.  
– O que aconteceu?  
– Eu sei que você mora a duas ruas daqui e provavelmente não sabe ainda, mas só essa semana, três cachorros meus já morreram envenenados.  
– Envenenados? – Tornei a perguntar. Eu sabia que podia estar sendo um pouco incômoda com tantas perguntas, já que ela ainda estava abatida por ter perdido o cachorro e talvez não quisesse tocar no assunto, mas eu tinha que aproveitar a oportunidade.  
– Sim. Eu encontrei o Bolinha deitado na grama ao lado do pote de água, ele tremia muito e parecia estar muito mal, então eu logo o levei para o veterinário, mas ele não aguentou a viagem e morreu no caminho. Isso também se repetiu com os outros dois.  
– Senhora Flores… Eu gostaria de poder lhe ajudar a descobrir quem está fazendo isso. Você sabe de alguém daqui que talvez possa ter sido o culpado?  
– Não, infelizmente não…  
– Tudo bem. Hm, eu tenho que ir. – Falei, puxando a guia da Kira. – Até outro dia.
  – Até.
Então eu voltei para casa com aquilo martelando na minha cabeça. Eu tinha mil possibilidades. Poderia ter sido qualquer um, entretanto eu estava certa de que iria descobrir o autor do crime.
Depois de passar uma semana acompanhada do meu gato, sem poder sair da biblioteca de casa por conta dos estudos, eu finalmente voltei até a rua da senhora Flores e fiquei parada lá, meio escondida entre as árvores. Eu sabia que a mulher ainda tinha mais dois cachorros e, se alguém realmente quisesse matar todos eles, teria que voltar de novo.  
Tudo estava bastante entediante e eu estava prestes a ir embora, até que ouvi alguém reclamando do lado de fora.  
– Não aguento mais esses cachorros, Joana. Eles latem noite e dia. Eu estou prestes a enlouquecer!  
– Nossa, Ricardo! Quanta amargura! Até parece que não gosta de animais.  
– Eu gosto de gatos! Cachorros são imundos e hiperativos.  
Os dois continuaram conversando e trocando alfinetadas enquanto atravessavam a rua, indo em direção a casa que estava bem em frente à da senhora Flores.  
Era isso, eu já sabia onde começar a minha investigação.  
Na semana que passou, fiquei durante todas as tardes os observando. Eu decorei os horários de saída e chegada do casal, então, no final de semana, sabia exatamente a que horas deveria entrar na residência deles.  
Era um sábado, às quatro horas da tarde, quando os dois saíram e passaram por mim, que fingia estar caminhando em frente à casa deles. Quando já estavam longe, eu caminhei pelo pátio e fui até a porta dos fundos, a qual eu sabia que estava sempre aberta, e dirigi-me até a cozinha. Depois de ter passado por aquele ponto, só o que eu precisava fazer era achar algo que comprovasse que o Ricardo era o culpado pela morte dos cães.  
Eu só não sabia que aquilo podia ser tão difícil.  
Já haviam se passado duas horas e eu não tinha achado nada que pudesse usar como prova. Eles voltariam a qualquer momento e eu tinha que sair, mas não queria terminar o meu primeiro dia de investigação sem nada, então resolvi procurar no sótão. Subi as escadas acopladas na parede e continuar checando cada canto, procurando por qualquer coisa que pudesse ser um veneno mortal para cachorros.  
Porém, como eu já deveria ter aprendido antes, as coisas deram errado. Alguns minutos depois de eu ter subido, ouvi o barulho da porta batendo e Ricardo discutindo com Joana novamente. Eu tentei fechar a portinha que levava ao sótão, no entanto, na pressa, acabei derrubando um porta-retratos e meu celular, que estava no bolso, para o caso de eu precisar tirar fotos das pistas. O aparelho caiu escada abaixo e é claro que Ricardo e Joana perceberam.  
  – Quem está aí? – O homem gritou, correndo até o local onde havia caído o celular.  
Eu fiquei quieta, encostada contra as caixas empoeiradas enquanto Ricardo subia pesadamente os degraus.
– Por favor, não me machuque! – Eu gritei, assim que ele parou em frente a mim.  
A minha maior surpresa, entretanto, foi ter visto que ele estava me encarando com expressão incrédula.  
– Por que eu te machucaria, sua maluca? – Falou. – Quer saber, só saia da minha casa antes que eu resolva chamar a polícia. E eu não quero nem saber por que você estava aqui. Só suma!  
Eu resolvi obedecer, claro. Então saí da casa em silêncio e dirigi-me até a casa da frente, para me desculpar com a dona dos três cachorros mortos por não ter conseguido uma resposta.
– Olha, senhora Flores, eu sinto muito… – Comecei a falar, porém fui interrompida.  
– Não, querida, eu é que peço desculpas. Eu cometi um engano. Ninguém matou os cachorros propositalmente. Foi só a minha amiga que confundiu o veneno para ratos com a ração dos cachorros.  
– Ah, nossa… – Eu disse, sentindo-me desconcertada. – Ok, certo. Eu vou indo. Eu tenho um compromisso hoje e não posso me atrasar.  
 Bem, com essa experiência eu percebi que sou melhor escritora do que detetive.

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