Autora: Julia Kelin Dentee
Turma: 9ª série
Unidade: Região Alta
Professora: Letícia Gracioli
Ano de 2015, terceiro ano do ensino médio. Não é nada fácil, estudar, estudar, ainda mais em plena adolescência, com tantas coisas para fazer, tanto para descobrir, tanto para aproveitar. Uma irmã sempre a incomodar, um namorado ciumento sempre vigiando, uma mãe controladora a qual vive pegando no pé da filha.
Passava o dia todo estudando, pois a dia da prova do Enem estava chegando. Ela não tinha mais tempo para nada. Chegava em casa depois da escola por volta das doze e trinta, almoçava, fazia o dever de casa, estudava para as provas escolares e o resto do dia passava a estudar para a prova que definiria se entraria em uma faculdade.
Em virtude disso, o namoro estava indo água abaixo, não tinha mais tempo para encontrar seu amor e, quando sobrava algum tempinho, nem tinha mais vontade de marcar um encontro. Pensava somente em se deitar em sua cama e tirar as merecidas horas de sono.
Natália se encontrava com Tiago somente nos finais de semana e, quando isso acontecia, passava o tempo todo a falar de seus problemas, a reclamar da vida.
¾ Essa semana tenho quatro provas. Aquelas professoras são loucas, só pensam em fazer provas, não entendem que temos que estudar para aquela maldita prova que definirá nosso futuro ¾ dizia ela.
E assim passava o final de semana, a estudar e a reclamar. Mal percebia que estava se distanciando de Tiago. Até que um dia recebeu uma chamada em seu celular, era a mãe de seu namorado.
¾ Minha filha, tenho uma coisa para te falar. Não sei se ele te falou, mas meu filho não está nada bem, nos últimos dias, estão acontecendo muitas coisas e hoje…, hoje é a pior. Tiago está internado na UTI, não sei se ele vai sobreviver.
¾ O quê? O que está aconteceu com ele? Do que você está falando?
¾ Querida, venha para cá que te explicarei melhor, estamos no hospital da cidade.
E desligou. Sem entender nada, a jovem foi desesperadamente para o hospital.
Ao chegar, foi correndo em direção à mãe de seu namorado.
¾ Por favor explique-me o que está acontecendo.
¾ Natália, sei que ele deveria te contar, mas ¾ disse a mãe, contendo-se para não chorar ¾ já faz algum tempo que ele descobriu algo muito ruim. Depois de fazer alguns exames de rotina, acabamos sabendo que, meu filho, Tiago, seu namorado, está…, não sei como te dizer isso, ele está com câncer.
¾ O quê? ¾ perguntou ela em estado de choque.
¾ E isso não é o pior, querida, o câncer já está em estado avançado, não há mais muito o que fazer, somente com um milagre ele vai conseguir superar essa ¾ falou a mãe enquanto chorava.
A jovem não conseguia acreditar no que estava acontecendo, saiu chorando do hospital, não sabia o que fazer. Começou a caminhar, a refletir sobre o que estava acontecendo.
Sentou-se ao lado de uma árvore e começou a pensar em como estava sendo egoísta. Quando encontrava Tiago, passava o dia a falar de seus problemas tolos, impedindo-o de falar de seus problemas que, definitivamente, eram mais importantes.
Ele estava passando por tudo aquilo sozinho, aguentava tudo sem contar com a ajuda da pessoa que mais amava.
Após semanas entre a vida e a morte, chegou o dia decisivo. Tiago tinha câncer no fígado e sua única chance era fazer uma cirurgia. A enfermeira entrou no quarto e começou a prepará-lo para a cirurgia. Uma hora depois, entrou um grupo e levou-o à sala cirúrgica.
Tudo estava ocorrendo bem, quando de repente, começou-se a ouvir um som ¾ PIIIIIIIIIIIIIIIIIII ¾ os batimentos começam a cair, a equipe apressou-se para fazer voltar ao normal.
Primeira tentativa, nada. Segunda tentativa, nada. Terceira tentativa …
Minutos depois, o médico saiu da sala e dirigiu-se até a família.
¾ Bem, nós tentamos de tudo, mas … o paciente não resistiu.
Por alguns instantes todos entraram em estado de choque, logo, o choro começou. A mãe sentou-se na cadeira e pôs-se a chorar, o pai, ao seu lado, fazia o mesmo, e Natália saiu correndo.
Correu o máximo que pôde e então começou a chorar e a gritar. Começou a pensar que talvez a culpa fosse sua, que se não fosso tão egoísta, se tivesse escutado o que seu namorado tinha a dizer, talvez ele estaria ali, ao seu lado. A raiva consumiu-a, pôs-se a gritar, a bater em tudo que via pela frente, até perceber que isso não resolveria nada.
No dia seguinte, após o enterro, voltou para casa e seguiu a instrução da mãe, tentou continuar a vida. Não era nada fácil, de cinco em cinco minutos se via a chorar.
Faltava uma semana para a prova do Enem, então não tinha outra opção a não ser estudar. Voltou a ter a mesma rotina de antes, porém, é claro, não tinha mais a distração no fim de semana.
Quando chegou o dia do resultado, Natália se decepcionou, não teve a nota idealizada que esperava após tanto estudo, porém conseguiu uma bolsa para a federal.
Naquela mesma noite antes de dormir, deitada sobre a cama, começou a refletir sobre tudo que passava por sua cabeça, o futuro, a nova vida, a universidade, até que viu um porta-retrato sobre sua escrivaninha todo trabalhado com desenhos de flores, o qual havia ganhado de Tiago no aniversário de um ano de namoro. Nele, havia uma foto dos dois, juntos em uma praia que visitaram no ano anterior. Talvez era lá que ele estava a esperando, talvez um dia os dois se reencontrassem em outra vida, mas até lá, eram as boas lembranças que estavam com ela.