Autoras: Laura Barzotto Klafki e Paola Radaelli de Conto
Turma: 9ª série
Unidade: Região Alta
Professora: Letícia Gracioli
– Aninha, o que você está fazendo aqui, sozinha, em vez de brincar com seus primos?- perguntei à minha neta caçula.
– Ah, vovó, não estou com vontade… Sabe, a vida mudou muito desde que comecei a estudar em outra escola…
– Querida… Não fique assim. Ninguém que te ama gosta de te ver triste…
– Mas vovó, o que eu faço para me acostumar com os novos colegas, novos professores, novos horários, nova vida?!
– Olha, você já sabe de minha história, não é? Mas acho que você vai gostar de ouvi-la novamente, certo?
– Acho que sim vovó…
– Há muitos anos, seu vô Antenor e eu éramos recém-casados e vivíamos em uma modesta casa na capital.
– Eu lecionava no turno da manhã em uma escola pública de minha cidade, enquanto meu esposo trabalhava em uma pequena indústria da região.
Vivíamos muito felizes. Dois anos após o casamento, tivemos a nossa primeira filha. Antônia, sua mãe. Quando ela tinha quatro anos, tivemos nosso segundo e último filho, Marcos, seu tio.
Mesmo depois do nascimento das crianças, costumávamos sair para nos divertirmos, na casa de nossos amigos.
Era uma noite fria de agosto, deixamos os pequenos sob os cuidados de minha mãe, pois jantaríamos na casa de um amigo de Antenor.
Antônia chorava muito, e isso me cortava o coração, mas não podíamos deixar de ir. Era um amigo muito íntimo de Antenor, e ele estava de aniversário. Sabíamos que a festa se prolongaria até tarde e não queríamos que as crianças passassem frio.
Fui a contragosto. Pressentia que alguma coisa iria acontecer. A noite, além de fria, estava chuvosa, e havia muito trânsito na estrada. Estávamos atrasados, a festa começara há uma hora e meia. O celular estava sem sinal, devido à chuva, que começava a ficar cada vez mais forte.
Antenor, já estressado e preocupado, pisava cada vez mais fundo no acelerador, por mais que eu suplicasse para ele andar mais devagar.
A chuva ia aumentando, assim como o ponteiro do velocímetro ia girando. Setenta, oitenta quilômetros por hora. Ele buzinava, xingava, ultrapassava os outros carros mesmo quando proibido.
Numa dessas ultrapassagens, uma curva perigosa foi fatal. Nosso carro bateu em um caminhão que transitava no sentido contrário.
Só me lembro de uma luz intensa ofuscando meus olhos. Desmaiei. Quando acordei, o vovô já não estava ao meu lado. A ambulância já o havia retirado do local do acidente.
Minha camiseta branca havia tornado-se vermelha, e eu já não sentia minhas pernas, elas estavam presas dentro dos destroços do carro. Muitas pessoas já estavam trabalhando para a retirada dos escombros.
A luz do dia me incomodava e eu só queria ver meus filhos. Ah, graças a Deus eles não vieram junto, graças a Deus, era o que eu pensava.